Comissão de Segurança da Câmara vai acionar PGR contra Flávio Dino
Convocado pela segunda vez, ministro não comparece ao colegiado
Convocado pela segunda vez, ministro não comparece ao colegiado
A Comissão de Segurança Pública vai acionar a
Procuradoria-Geral da República (PGR) para que analise as providências
cabíveis em relação ao não comparecimento do ministro da Justiça e
Segurança Pública, Flávio Dino, à audiência pública desta terça-feira (24).
Esta foi a segunda vez que o ministro deixou de atender a
uma convocação da comissão, que o aguardava para que prestasse esclarecimentos
sobre as ações da pasta sob seu comando. Conforme lembrou o presidente do
colegiado, deputado Sanderson (PL-RS), o comportamento do ministro pode
configurar crime de responsabilidade.
“A Constituição [Federal] é clara. A Câmara dos Deputados e
o Senado Federal, suas comissões, têm o poder de convocar ministros de Estado.
E [estes], não comparecendo, cometem crime de responsabilidade. Se a PGR vai
proceder é outro problema”, afirmou o parlamentar ao anunciar a decisão de
enviar ofício à PGR.
“Os presidentes, os vice-presidentes das comissões, não têm
margem para não fazer isso. Se não comunicarmos o acontecido, estaremos
prevaricando. Somos obrigados a encaminhar ao PGR esta notícia de um crime de
responsabilidade”, explicou Sanderson, lembrando que, no dia 11, o deputado
Paulo Bilynskyj (PL-SP) protocolou uma primeira representação contra Dino junto
à PGR.
Bilynskyj acionou a PGR após o ministro faltar à audiência
pública que a comissão realizou no dia 10. Na ocasião, o ministro alegou que
não poderia atender à convocação dos parlamentares por ter que acompanhar
a Operação Bad Vibes, deflagrada no mesmo dia, em 12 unidades da federação,
para combater a pornografia infantil.
Os integrantes da comissão, então, aprovaram a nova
convocação de Dino para as 9h desta terça-feira. Às 8h11, o ministro enviou um
ofício ao presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL). No
documento, ele afirma ter sido orientado pelo setor de segurança do próprio
ministério a não comparecer à sessão devido ao “elevado risco” de se tornar
alvo de “agressões físicas e morais”. A Lira, Dino volta a propor que, em vez
de comparecer a mais uma sessão da Comissão de Segurança Pública, seja convocado
a participar de uma comissão geral, no Plenário da Câmara.
Para o ministro, parte das manifestações de parlamentares de
oposição ao governo federal extrapolam as críticas à sua atuação à frente da
pasta, configurando verdadeiras ameaças. “Não são críticas. São agressões,
ofensas reiteradas. Lembremos que eu estive lá [participando de uma audiência
do mesmo colegiado] e o presidente da comissão reconheceu que não havia
condições de fazer a sessão porque houve inclusive conflitos físicos
generalizados, xingamentos”, lembrou o ministro logo após se reunir com a procuradora-geral
da República, Elizeta de Paiva Ramos.
Segundo Dino, foi a procuradora quem o convidou para tratar
de assuntos relacionados a terras indígenas. Dino e Elizeta se reuniram em
Brasília, no mesmo horário em que a audiência pública da comissão parlamentar
começava. E segundo o presidente do colegiado, Dino não comunicou à comissão a
fim de justificar sua ausência.
“Isso é uma obrigação constitucional. E o ministro Flávio
Dino não só não veio, como não justificou. O que, para mim, representa um
ataque ao Parlamento brasileiro, uma espécie de um deboche. Tipo [dizer] “eu me
basto porque sou senador”. Ele não é senador. Ele é ministro de Justiça, um
funcionário público. Para voltar a ser senador, tem que se exonerar da função
de ministro”, criticou Sanderson.
“Nada oficial chegou à comissão, e fiquei sabendo pela
imprensa que o ministro quer uma comissão geral. Não tem problema. Pode fazer,
mas ele vai ter que vir à comissão específica [sobre segurança pública]. E no
aspecto político-administrativo ainda vamos falar com o presidente da Câmara
porque não dá para aceitar isso. Cria-se um precedente e nenhum ministro, em
nenhum governo, vai poder ser responsabilizado quando não vier”.
Citado nominalmente no ofício que Flávio Dino endereçou ao
presidente da Câmara, o deputado Gilvan da Federal (PL-ES) destacou que o
ministro fez "gravíssimas acusações" contra vários parlamentares que
integram a comissão, o que pode ensejar mais uma convocação para que ele se
explique. "Ele está, entre aspas, justificando que não veio por temer pela
sua integridade física, porque aqui há [entre parlamentares da oposição, como o
próprio Gilvan] policiais que poderiam estar armados. Ou seja, além de faltar à
convocação, ele está imputando um crime a nós. Quero que o ministro aponte que
bandido há aqui”.
Consultada, a presidência da Câmara informou que não vai se manifestar sobre o assunto.
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ROMAN RAITER - JUSTIÇA AO OASE